Este será um espaço de comunicação para eu divulgar as minhas poesias e fotografias, além de compartilhar com outros valores artísticos culturais.E assim viabilizar o acesso a arte àqueles que tem sensibilidade. Manuel Lima
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
O Desespero da Fivela
Na comodidade dos tempos tudo leva a crer que somos úteis, e somos, quando há motivo de amor e zelo. Já a paz quer derrubar o ódio e amenizar a dor... – Me desculpe de tão nervosa não falei meu nome, pode até ser engraçado, mas me chamam de “ Fivela”. Sou simples com bolinhas no corpo e dois caninhos dourados na cintura. Por favor, me ajude! Não sei se minha dona me esqueceu ou jogou-me no mundo como uma pessoa abandonada sem lar e sem pão. Estou perdida sem saber pra onde ir...olhe onde fui parar. Numa linha de montagens de sapatos. E é aqui que ela trabalha, nesta fábrica de sapatos. Lanolli estava surpreso e ao mesmo tempo confuso, mas tentou manter a calma e perguntou.
- Quem é você?
- Eu... eu... sou uma Fivela abandonada. Estou aqui, reclamando da minha má sorte.
-Tenha calma, eu vou tentar resolver o seu problema. Só peço que confie em mim, e acredite que você não está sozinha.
A fivela estava muito nervosa e chorava sem parar.
- Agora, diga-me, o que uma simples fivela como eu faz aqui? Esse lugar não combina comigo, não faz sentido. O meu lugar é em uma bonita penteadeira, dentro de uma luxuosíssima caixinha de jóias.
Lanolli que sempre dava um jeitinho para ajudar as pessoas, não hesitou, rapidinho pensou em fazer um anúncio e colar no portão de entrada da fábrica, assim quem visse e fosse ler o estava escrito falaria para a dona da Fivela , se acaso a encontrasse.
- Olha fivela, modéstia a parte eu sou muito bom em fazer anúncios de objetos perdidos. Não se preocupe, está bem?
Ainda com lágrimas nos olhos e soluçando falou a fivela.
- Você faria isso por mim, meu amigo? Se é assim que posso chamar.
- Lógico que sim, afinal de contas para que serve os amigos, hein?
- Lanolli, só você mesmo, já estou me sentindo mais aliviada e segura ao seu lado.
- Assim você me deixa sem graça. Mas vamos ao que nos interessa.
A Fivela ficou meio temerosa para fazer um simples pedido a Lanolli, mas respirou fundo, colocou a vergonha de lado, e mirou bem direto nos olhos do amigo e falou.
- Tenho um pedido para lhe fazer.
- Faça quantos quiser. O que foi dessa vez?
- Que tu não sejas igual a pessoa que me abandonou...
- Que é isso Fivela! Jamais eu deixarei você sozinha enquanto estiver comigo.
Depois de muito conversarem, Lanolli pegou papel e caneta e começou a escrever o anúncio. Quando ficou pronto ele pregou o anúncio no portão, bem na hora em que todos os empregados entravam. Um deles se aproximou e começou a ler. Ao término do anúncio ele chamou Lanolli e perguntou.
- Lanolli, que piada é aquela que está colada no portão?
- Não é piada Pedro, o que está escrito lá é tudo verdade.
Pedro ficou boque aberto com a convicção de Lanolli, e abriu o saco de asneiras.
- Não, você só pode estar de gozação com a gente. Onde já se viu, fivela falar que foi abandonada. Se eu fosse você eu tirava aquele papel do portão, daqui a pouco vão dizer que tu estás louco.
- Quem está louco é você que não sentimentos. E tão pouco entende a dor dos outros, palhaço!
O anúncio que Lanolli fez foi motivo de piada, mas logo surtiu efeito. A dona da Fivela ficou sabendo e logo procurou Lanolli para ter a certeza do que estava acontecendo.
- Lanolli, que piada é essa de fivela perdida? Perguntou toda ansiosa e interessada a moça.
- Não é piada não, senhora, o que está escrito lá é tudo verdade. Eu encontrei sim, uma fivela aqui na linha de montagem de sapatos, triste e desesperada.
A curiosidade na moça foi aumentando, e ela começou a perguntar.
- E como é essa fivela, você pode me dizer?
- Claro, ela é de bolinhas, com caninhos dourados na cintura.
Após a descrição uma leve lágrima desceu pela face da bela moça, que não conseguiu conter a emoção.
- Não acredito, essa é a minha fivela. Ai, que alivio, já estava desesperada, sem saber o dizer para minha mãe. Esta fivela foi um presente que eu ganhei quando completei 15 anos, e jamais eu a abandonaria. Talvez por um momento o cabelo tenha se desmanchado, com isso ela caiu.
- Quer dizer que você é a dona da fivela?
-Sou eu sim!
-Nossa, eu não acredito que deu certo o anúncio.
Lanolli pulou de alegria, por ter ajudado sua amiga a encontrar a verdadeira dona.
- Obrigado Lanolli, por ter cuidado da minha fivela. Mas onde ela está? E o que eu posso fazer para recompensá-lo?
- Que é isso, desse jeito você me ofende. O que fiz não foi mais do que a minha obrigação. Ajudar a solucionar um problema, e que ele fosse resolvido. Agora ela está bem guardada, esperando o desfecho feliz dessa história.
- Aqui está, mas não a perca outra vez, ame-a com todo o seu coração. A solidão é o pior dos sentimentos. Sentir-se rejeitado é mais terrível para qualquer ser deste planeta.
- Você falou coisas tão bonitas, que mexeram comigo. Mas pode deixar que a partir de hoje, eu serei mais cuidadosa com todos à minha volta. Finalmente todos ficaram felizes. Lanolli por ter ajudado a Fivela a encontrar a sua verdadeira dona, e sua própria dona a reencontrar o seu estimado objeto de valor.
Essa é mais uma história que pode acontecer com qualquer um, pois o destino não olha a quem, por isso, quando encontrar alguém com dificuldades não pense duas vezes, ajude-o, não importa como vem a recompensa. O que importa é o amor e a solidariedade que podemos fazer ao próximo.
Manuel Lima
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